sexta-feira, 27 de abril de 2007

"COR"

Esta semana, no PALAVRA PUXA PALAVRA o jogo do Fotodicionário era uma representação, por fotografia da alavra: COR.
A minha encontra-se aqui truncada, mas é a fotografia da coluna central, lado direito. Mas ver só esta nada é. Passem por lá e vejam as paletas oferecidas á nossa imaginação.

terça-feira, 24 de abril de 2007

25 de ABIL SEMPRE (apesar dos pesares)


A Festa Foi Bonita


A festa foi bonita pá mas tu agora

voltas ao mesmo sítio onde estiveste

voltas à mesma rua à mesma casa

voltas ao mesmo copo que bebeste

E o mundo que sonhaste foi andando

o sonho de justiça e a fantasia

que ardemos toda a noite em fogo brando

terá que se enfrentar com o dia a dia

Mas há uma coisa enorme que ficou:

(e é nela que teces o amanhã

que deste frente a frente resultou)

a vontade de viver outra verdade

a vontade de acordar noutra manhã

A festa foi bonita pá mas tu agora

voltas ao mesmo leito onde dormiste

e apesar do sabor que nos deixamos

o termos que partir é sempre triste

O mundo que sonhamos está tão longe

mas tudo o que esta noite se viveu

garante que afinal pode ser hoje

o mundo que se sonha e se esqueceu

Mas há uma coisa enorme que ficou:

(e é nela que teces o amanhã

que deste frente a frente resultou)

a vontade de viver outra verdade

a vontade de acordar noutra manhã.




Pedro Barroso* (in CD "Criticamente", Lusogram, 1999)

sexta-feira, 20 de abril de 2007

INTERIOR"

Foi este o desafio no PALAVRA PUXA PALAVRA, para a semana que chega ao fim. De tantos interiores possíveis foi o da viagem pelas memórias que se impôs, sem necessidade de avaliação ou segunda reflexão.

Há muitos, muitos anos (não, não é a canção do José Cid) eu, que não sou compradora compulsiva de "trapos" e afins para uso pessoal, dei por mim OBCECADA - mesmo - por uma seda estampada que vira ao passar frente a uma loja.
Não me saía da cabeça e era de tal forma forte a vontade de ter aquele tecido que mentalmente desenhei o que diria à modista para fazer.
Claro que voltei lá de propósito, comprei, desenhei o modelito (que ainda tenho) e a modista fez.
Noutra altura aconteceu-me, ao olhar relógios de pulso numa montra algo similar.
Os olhos agagrraram-se a ele e ele aos olhos.
Era um "cebolão" de homem.
Fui embora e lá ficou na montra.

A compulsão forte e o relógio a tiquetaquear na minha cabeça sem de lá sair....uma coisa obssessiva...
Algum tempo depois, como não passasse, voltei lá e comprei-o e passei a usá-lo.

Ora como nunca fui dada a este tipo de coisas, de compulsões - nem de apetites nas três gravidezes - nunca me acontecera nada parecido, dei por mim a tentar perceber.
E claro k percebi. Senti um click no cérebro, nas memórias, articulando-se com o presente e aí estava a razão de ambos os factos.
O interior das memórias, o interior da infância e as marcas (boas estas felizmente) que nos ficam e moldam em aspectos que nem apercebemos.

O tecido era muito, muito parecido com um vestido em georgette de seda que minha mãe tinha quando eu era pequenina - não só no tamanho mas na idade.
Estava na fase de me esconder no roupeiro dos pais que me procuravam, olhavam-me nos olhos, lá escondidinha atrás das roupas - mas a espreitar - uma mão afastando os vestidos, um olho atento aos movimentos de quem aparecesse, para descobrir se era ou não vista....Um tempo em que existiam fadas e gnomos que brincavam comigo...

Lembro-me de me olharem, olho no olho, e voltarem-se um para o outro a dialogar: "onde será que se meteu, não está aqui....! já vimos ali. E acolá....Olha será que se escondeu......."
E lá saíam a procurar-me algures, depois de incentivarem o jogo com este diálogo cúmplice.
Lembro que era tão pequena que tapava a boca com a mão, acreditando realmente que me não viam nem ouviam rir, abafando embora o riso...
E o relógio que me "obrigou" a comprá-lo foi a mesma coisa.
Era/é uma réplica muito, muito próxima, do relógio de pulso de meu pai.
Sempre o mesmo e sempre certo. Que passou para meu irmao mais velho. O primogénito.

E é destas viagens pelo interior das memórias que por vezes estão e são tão profundas que influenciam atitudes, gosto, estética, opções de vida...,
afinal tudo em nossa vida, sem que disso demos conta, que resolvi fazer uma (das várias possíveis)representação fotografica.

A caixinha de madeira, com as figuras holandesas, é muito mais velha do que eu.
Era de família e foi-me dada por meu pai.
O menino Jesus, e os santos que o rodeiam são peças antigas e parte dessas memórias, muito muito interiores, que são sempre aconchego mesmo quando de tal nos não apercebemos.
Era a caixinha dos tesouros. Não era qualquer coisa que ali guardava...
A outra, com os apetrechos de prata, contém a caneta de aparo - os mais antigos lembram-se delas - que minha mãe me "emprestou" no dia do exame de admissão ao Liceu.
Não quis que fizesse o exame com a vulgar caneta de pau do dia a dia.....
Quis que esse dia ficasse na minha memória como um dia de passagem e, com este gesto, ficou .

Se não fosse este gesto de minha (muito querida) mãe nenhum registo especial haveria sobre esse dia.

Pelo interior de mim.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Creio nos anjos que andam pelo mundo


Creio nos anjos que andam pelo mundo,


Creio na Deusa com olhos de diamantes,

Creio em amores lunares com piano ao fundo,

Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
*

Creio num engenho que falta mais fecundo

De harmonizar as partes dissonantes,

Creio que tudo é eterno num segundo,

Creio num céu futuro que houve dantes,

*
Creio nos deuses de um astral mais puro,

Na flor humilde que se encosta ao muro,

Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,

*
Na ocupação do mundo pelas rosas,

Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
**

CORREIA, Natália, 1990, "Sonetos Românticos".
Informação: este poema é cantado por Janita Salomé (uma das nossa mehores vozes)