quinta-feira, 30 de agosto de 2007

fugi da chuva


fugi da chuva
que caía em grossas e frias
bagas. não gotas.

abri a porta e
respirei aliviada.
estava em casa.

maquinalmente
despi e pendurei
o casaco.
despojei-me dos adereços
aqui desnecessários.
a casa é abrigo,
santuário.

sentei-me a ler
e a chuva recomeçou.

em segundos fiquei
encharcada.
até aos ossos.

olhei a janela
por onde a água
escorria forte.

por dentro.
olhei
o chão da sala.

caudoloso rio
crescia
numa enchente
tapando já
meus tornozelos.

de novo virei
o olhar para a janela.

lá fora o céu
azul
resplandecia com
ofuscante luz solar.

fiquei.

esperei a chuva passar.
ou afogar-me.
transformar-me
em marinho ser .

transmutar-me.


quinta-feira, 23 de agosto de 2007

sobre a coragem


(foto da Gronelândia, tirada por mim, num programa de T.V)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

criação do mundo

(Se não conseguires ler, p.f. clica na imagem. Esta amplia e lerás bem.
***
*
Este poema é dedicado a todas as "amizades" que sem ligarem a minha ausência têm a generosidade de continuar a passar pelos meus blogues dando prova de uma fraterna solidariedade. Bem-hajam e que o Universo vos devolva em dobro essa generosidade.

domingo, 12 de agosto de 2007

pedraBancoTronoRaíz - Singela homenagem a M.Torga na passagem do seu centenário

(foto: minha autoria)
Se clicares sobre a imagem esta ampliará e lerás melhor o texto.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Confissões de…um bicho estranho (3ª e última parte)

Mas acontecem-me coisas estranhas.
Por exemplo: prefiro ir ao dentista do que à/ao cabeleireira/o.
Acreditem porque é mesmo verdade.
Para ir a um salão de cabeleireira/o tenho que me mentalizar, encher de paciência e no final venho sempre esgotada.
Da mesma forma adoro fotografar e sempre detestei que mo fizessem. Desde criança que me lembro de assim ser.

Mas há, nesta casa onde resido há quase 33 anos, uma porta que ao visitar o andar me disseram ser a do quarto de banho de serviço, com as paredes todas forradas a pastilha cor-de-rosa (cor de que não gosto) e que fica num corredor da casa onde se situam as áreas de serviço, quarto de empregada incluso.

Acontece que sempre que lá entrava sentia uma vibração no ar, como que de miragem que se desvanece ou se não chega a estruturar.
Pensava: é cansaço, ou: tenho que verificar a tensão arterial ou, pura e simplesmente, na maioria das vezes, nem ligava.

Pois um belo dia, ao abrir a porta e adentrar esta divisão a tal vibração no ar deixou de ser só vibração, fugidia impressão.
Foi um ondular forte e em vez do pequeno quarto de banho de serviço todo forrado a pastilha cor-de-rosa, vi, ante meus atónitos olhos um imenso e imaculadamente branco salão de cabeleireira, com cadeiras, poltronas e armários num dourado tom alaranjado que só conseguimos ver no céu em certos pôr-de-sóis, pelo que se tornava extremamente relaxante.

Pretendia dar meia volta e sair, quando senti tocarem-me no braço enquanto uma educada e gentil voz me dizia: “ Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé, não é mesmo?”
Seguiu-se uma risada leve enquanto continuava: “como não vai ao salão vimos nós a casa quando achamos que já está mais do que na hora! Por favor, siga-me”.

E lá fui, seguindo a gentil funcionária de tão insólito salão, amplo, cheio de janelas e luz solar que inopinadamente existia, aparecia e cabia no minúsculo habitáculo de um quarto de banho de serviço, bem no coração de meu lar.

Passa muito tempo sem dar sinal, mas hoje apanhou-me desprevenida e foi tratamento geral: cortar, pintar, hidratar e pentear.

E aqui estou com menos uns 12 cm de cabelo.
Agora mal toca os ombros...

Se tiveram paciência de ler até ao final digam lá se sou ou não um bicho muito estranho.
Conhecem pessoas a quem aconteçam coisas destas?

Para além de mim, é claro!?

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Confissões de…um bicho estranho (2ª parte)

Sou assim!
Um bicho estranho.
Mas sinto-me bem com o que sou, como sou.
Estou bem na minha pele. E recomendo o mesmo.
Sou um bicho tão, mas tão estranho que, como falo o que penso e sinto, e ajo em conformidade, as pessoas efabulam sobre mim, porque duvidam do que se lhes apresenta. Porque no fundo somos ensinados a representar o papel que o interlocutor de momento espera de nós.
E assim o fazemos e ao saberem que representam pensam que o estou fazendo também.

Esta parte foi hilariante quando andei na política activa pois os interlocutores, cada um com a sua agenda própria, davam voltas e mais voltas aos cérebros procurando os meus verdadeiros objectivos, a minha secreta agenda….
Quando estava tudo ali escarrapachado ante seus olhares e pensamento…. Adiante…

Claro está que não falo das mudanças automáticas que se operam quando vivenciamos papeis tão diferentes como, por exemplo: os de filha/mãe; membro de uma família/profissional….
É claro que nestas circunstâncias, sendo a mesma, represento, automaticamente papéis diferentes, pois diferente é o objecto, o domínio dos afectos, o grau de intimidade e o produto final de cada uma dessas relações.

Falo, falo, mas não sou capaz de vos transmitir porque é que digo que sou, um bicho estranho….
Isso só quem lida comigo o saberá, ou não, fazer com maior discernimento.

As pessoas – a norma – gosta da agitação, dos barulhos, não gosta de estar ou ir sozinha/o a qualquer lado.

Há até quem para ir tomar café, logo ali, telefone a amigos/as a ver quem está disponível para lhe fazer companhia e se não houver ninguém disponível desiste de fazer o que intentava e lhe apetecia.
Se pretendo ir a algum lado, vou.
Não busco quem queira ir, acompanhar-me.
Nem que seja ir viajar. Se sou eu que quero ir, vou.
Vou comigo e vou bem.

Mas não fujo das pessoas nem hesito numa boa companhia que tenha interesse naquilo em que esteja empenhada no momento.

Gosto do silêncio.
Dos espaços enormes, amplos, vazios e silenciosos... Das serranias, do isolamento, de algo a que costumam chamar solidão.
Não receio o isolamento nem hesito em falar sobre a morte como falo da vida.
Acham mórbido e eu não entendo como pode ser mórbido pensar sobre algo que nada mais é do que o outro lado desta moeda a que chamamos vida.

(continua)