Foi este o desafio no PALAVRA PUXA PALAVRA, para a semana que chega ao fim. De tantos interiores possíveis foi o da viagem pelas memórias que se impôs, sem necessidade de avaliação ou segunda reflexão.
Há muitos, muitos anos (não, não é a canção do José Cid) eu, que não sou compradora compulsiva de "trapos" e afins para uso pessoal, dei por mim OBCECADA - mesmo - por uma seda estampada que vira ao passar frente a uma loja.
Não me saía da cabeça e era de tal forma forte a vontade de ter aquele tecido que mentalmente desenhei o que diria à modista para fazer.
Claro que voltei lá de propósito, comprei, desenhei o modelito (que ainda tenho) e a modista fez.
Noutra altura aconteceu-me, ao olhar relógios de pulso numa montra algo similar.
Os olhos agagrraram-se a ele e ele aos olhos.
Era um "cebolão" de homem.
Fui embora e lá ficou na montra.
A compulsão forte e o relógio a tiquetaquear na minha cabeça sem de lá sair....uma coisa obssessiva...
Algum tempo depois, como não passasse, voltei lá e comprei-o e passei a usá-lo.
Ora como nunca fui dada a este tipo de coisas, de compulsões - nem de apetites nas três gravidezes - nunca me acontecera nada parecido, dei por mim a tentar perceber.
E claro k percebi. Senti um click no cérebro, nas memórias, articulando-se com o presente e aí estava a razão de ambos os factos.
O interior das memórias, o interior da infância e as marcas (boas estas felizmente) que nos ficam e moldam em aspectos que nem apercebemos.
O tecido era muito, muito parecido com um vestido em georgette de seda que minha mãe tinha quando eu era pequenina - não só no tamanho mas na idade.
Estava na fase de me esconder no roupeiro dos pais que me procuravam, olhavam-me nos olhos, lá escondidinha atrás das roupas - mas a espreitar - uma mão afastando os vestidos, um olho atento aos movimentos de quem aparecesse, para descobrir se era ou não vista....Um tempo em que existiam fadas e gnomos que brincavam comigo...
Lembro-me de me olharem, olho no olho, e voltarem-se um para o outro a dialogar: "onde será que se meteu, não está aqui....! já vimos ali. E acolá....Olha será que se escondeu......."
E lá saíam a procurar-me algures, depois de incentivarem o jogo com este diálogo cúmplice.
Lembro que era tão pequena que tapava a boca com a mão, acreditando realmente que me não viam nem ouviam rir, abafando embora o riso...
E o relógio que me "obrigou" a comprá-lo foi a mesma coisa.
Era/é uma réplica muito, muito próxima, do relógio de pulso de meu pai.
Sempre o mesmo e sempre certo. Que passou para meu irmao mais velho. O primogénito.
E é destas viagens pelo interior das memórias que por vezes estão e são tão profundas que influenciam atitudes, gosto, estética, opções de vida...,
afinal tudo em nossa vida, sem que disso demos conta, que resolvi fazer uma (das várias possíveis)representação fotografica.
A caixinha de madeira, com as figuras holandesas, é muito mais velha do que eu.
Era de família e foi-me dada por meu pai.
O menino Jesus, e os santos que o rodeiam são peças antigas e parte dessas memórias, muito muito interiores, que são sempre aconchego mesmo quando de tal nos não apercebemos.
Era a caixinha dos tesouros. Não era qualquer coisa que ali guardava...
A outra, com os apetrechos de prata, contém a caneta de aparo - os mais antigos lembram-se delas - que minha mãe me "emprestou" no dia do exame de admissão ao Liceu.
Não quis que fizesse o exame com a vulgar caneta de pau do dia a dia.....
Quis que esse dia ficasse na minha memória como um dia de passagem e, com este gesto, ficou .
Se não fosse este gesto de minha (muito querida) mãe nenhum registo especial haveria sobre esse dia.
Pelo interior de mim.
Não me saía da cabeça e era de tal forma forte a vontade de ter aquele tecido que mentalmente desenhei o que diria à modista para fazer.
Claro que voltei lá de propósito, comprei, desenhei o modelito (que ainda tenho) e a modista fez.
Noutra altura aconteceu-me, ao olhar relógios de pulso numa montra algo similar.
Os olhos agagrraram-se a ele e ele aos olhos.
Era um "cebolão" de homem.
Fui embora e lá ficou na montra.
A compulsão forte e o relógio a tiquetaquear na minha cabeça sem de lá sair....uma coisa obssessiva...
Algum tempo depois, como não passasse, voltei lá e comprei-o e passei a usá-lo.
Ora como nunca fui dada a este tipo de coisas, de compulsões - nem de apetites nas três gravidezes - nunca me acontecera nada parecido, dei por mim a tentar perceber.
E claro k percebi. Senti um click no cérebro, nas memórias, articulando-se com o presente e aí estava a razão de ambos os factos.
O interior das memórias, o interior da infância e as marcas (boas estas felizmente) que nos ficam e moldam em aspectos que nem apercebemos.
O tecido era muito, muito parecido com um vestido em georgette de seda que minha mãe tinha quando eu era pequenina - não só no tamanho mas na idade.
Estava na fase de me esconder no roupeiro dos pais que me procuravam, olhavam-me nos olhos, lá escondidinha atrás das roupas - mas a espreitar - uma mão afastando os vestidos, um olho atento aos movimentos de quem aparecesse, para descobrir se era ou não vista....Um tempo em que existiam fadas e gnomos que brincavam comigo...
Lembro-me de me olharem, olho no olho, e voltarem-se um para o outro a dialogar: "onde será que se meteu, não está aqui....! já vimos ali. E acolá....Olha será que se escondeu......."
E lá saíam a procurar-me algures, depois de incentivarem o jogo com este diálogo cúmplice.
Lembro que era tão pequena que tapava a boca com a mão, acreditando realmente que me não viam nem ouviam rir, abafando embora o riso...
E o relógio que me "obrigou" a comprá-lo foi a mesma coisa.
Era/é uma réplica muito, muito próxima, do relógio de pulso de meu pai.
Sempre o mesmo e sempre certo. Que passou para meu irmao mais velho. O primogénito.
E é destas viagens pelo interior das memórias que por vezes estão e são tão profundas que influenciam atitudes, gosto, estética, opções de vida...,
afinal tudo em nossa vida, sem que disso demos conta, que resolvi fazer uma (das várias possíveis)representação fotografica.

Era de família e foi-me dada por meu pai.
O menino Jesus, e os santos que o rodeiam são peças antigas e parte dessas memórias, muito muito interiores, que são sempre aconchego mesmo quando de tal nos não apercebemos.
Era a caixinha dos tesouros. Não era qualquer coisa que ali guardava...
A outra, com os apetrechos de prata, contém a caneta de aparo - os mais antigos lembram-se delas - que minha mãe me "emprestou" no dia do exame de admissão ao Liceu.
Não quis que fizesse o exame com a vulgar caneta de pau do dia a dia.....
Quis que esse dia ficasse na minha memória como um dia de passagem e, com este gesto, ficou .
Se não fosse este gesto de minha (muito querida) mãe nenhum registo especial haveria sobre esse dia.
Pelo interior de mim.
4 comentários:
Arrepio de saudade, tal como sentiste a memória. Lindo o teu descrever. E as coisinhas "que falam" murmurando... Bjinho
Como a força da imagem leva a mergulhos em recordações longinquas é o que tão bem aqui descreves.
Bjs
TD
Gostei deste teu "interior". Por coincidencia também escrevi o meu !!!
Um beijo
Verdadeiramente interessante!
Beijocas
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