terça-feira, 7 de agosto de 2007

Confissões de…um bicho estranho (3ª e última parte)

Mas acontecem-me coisas estranhas.
Por exemplo: prefiro ir ao dentista do que à/ao cabeleireira/o.
Acreditem porque é mesmo verdade.
Para ir a um salão de cabeleireira/o tenho que me mentalizar, encher de paciência e no final venho sempre esgotada.
Da mesma forma adoro fotografar e sempre detestei que mo fizessem. Desde criança que me lembro de assim ser.

Mas há, nesta casa onde resido há quase 33 anos, uma porta que ao visitar o andar me disseram ser a do quarto de banho de serviço, com as paredes todas forradas a pastilha cor-de-rosa (cor de que não gosto) e que fica num corredor da casa onde se situam as áreas de serviço, quarto de empregada incluso.

Acontece que sempre que lá entrava sentia uma vibração no ar, como que de miragem que se desvanece ou se não chega a estruturar.
Pensava: é cansaço, ou: tenho que verificar a tensão arterial ou, pura e simplesmente, na maioria das vezes, nem ligava.

Pois um belo dia, ao abrir a porta e adentrar esta divisão a tal vibração no ar deixou de ser só vibração, fugidia impressão.
Foi um ondular forte e em vez do pequeno quarto de banho de serviço todo forrado a pastilha cor-de-rosa, vi, ante meus atónitos olhos um imenso e imaculadamente branco salão de cabeleireira, com cadeiras, poltronas e armários num dourado tom alaranjado que só conseguimos ver no céu em certos pôr-de-sóis, pelo que se tornava extremamente relaxante.

Pretendia dar meia volta e sair, quando senti tocarem-me no braço enquanto uma educada e gentil voz me dizia: “ Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé, não é mesmo?”
Seguiu-se uma risada leve enquanto continuava: “como não vai ao salão vimos nós a casa quando achamos que já está mais do que na hora! Por favor, siga-me”.

E lá fui, seguindo a gentil funcionária de tão insólito salão, amplo, cheio de janelas e luz solar que inopinadamente existia, aparecia e cabia no minúsculo habitáculo de um quarto de banho de serviço, bem no coração de meu lar.

Passa muito tempo sem dar sinal, mas hoje apanhou-me desprevenida e foi tratamento geral: cortar, pintar, hidratar e pentear.

E aqui estou com menos uns 12 cm de cabelo.
Agora mal toca os ombros...

Se tiveram paciência de ler até ao final digam lá se sou ou não um bicho muito estranho.
Conhecem pessoas a quem aconteçam coisas destas?

Para além de mim, é claro!?

7 comentários:

Menina Marota disse...

Ah... eu gosto de ir ao cabeleireiro! Especialmente se estou nervosa ou com alguma coisa que não me sinta bem. Costumo dizer cá em casa" vou "lavar" as ideias!erdade, venho sempre bem disposta de lá, para além de que o meu cabelo é ondulado (super ondulado) e adoro vir de lá com ele todo esticadinho... o mei filhote diz, tiraram-te 5 kg de cabelo de cima, imagina lá o que é a minha cabeleira, lavada em casa... eheheh

Bonita estória, vou aguardar a conclusão... ;))

Beijinhos e boa semana

Teresa David disse...

Aproveitei em li agora as três p+artes deste post de nome Bicho estranho. Quanto a este último, especificamente, direi, que pena não estar aí, que hoje vou ter de tratar do meu cabelo e dava-me jeito a tua casa de banho mágica.
Não te vejo como um bicho estranho, apenas uma pessoa que gosta de dessecar tudo e todos até aos limites da tentativa de um entendimento mais profundo das coisas e pessoas.
Embora nos tempos que correm a leviandade mental se tenha enraizado em mto gente parece-me ainda existem mais pessoas como tu, pelo menos, já conheci algumas ao longo da vida. Pessoalmente, prefiro não "cavar" tão fundo, pois isso geralmente traz-nos algumas desiluções e tristezas que tento evitar!
Mas como diz o outro: cada um é como cada qual e, a minha atitude, é que somos amigos de alguém devemos aceitá-lo incondicionalmente seja qual fôr a sua forma de estar. Logo...
Bjs
TD

bettips disse...

Isto...é para ler e saborear ao vagar, da noite (que fico mais esperta!). Verdade é que tropecei logo nos 33 anos de "casa", nos azulejos rosa, no corte de cabelo manual e pensei: estão a falar de mim... Mas é tempo passado, já perdi a paciência para tanta coisa! E porque será que "bicho" estranho não me espanta?
Espantam-me sim os vulgares bichos "faz de conta"! Beijinhos

Anónimo disse...

Minha "crida"m
Muito, muito interessante relato. Mostra que o teu talento pra escrever não é apenas para a poesia, como, aliás, já o demonstraste num dos livros que, gentilmente, me enviaste. Olhe, acabei de repassar um SPam pra ti, pra fazer um teste. Ele é muito engraçado ao brincar com a inevitável velhice. Um beijo nordestino-alentejano.

De Amor e de Terra disse...

Olá Conceição, boa noite!
Guardei para o post final o comentário, porque quis saborear na totalidade!
Gostei! achei interessante e escrito sem ademanes, o que me agrada sobremaneira...
também gostei de te dares a conhecer; isso de bicho estranho, pode ser para algumas pessoas, por saíres dos padrões por elas estabelecidos; quanto à verdade, há várias coisas que temos em comum e então o Bicho passa a Bichos e se forem vários passarão a não ser tão estranhos, não te parece!
Abraço e parabéns!!!
Ah, é verdade, havemos de falar mais desse salão de cabeleireiro!
Beijo

Maria Mamede

Sei que existes disse...

Como eu te entendo nessa história de não gostares de ir ao cabeleireiro!...
Bicho estranho?! Cada vez me parece mais que não!
Beijinhos

Unknown disse...

Isto é que é prestígio! O salão se deslocar para atendê-la...