quinta-feira, 30 de agosto de 2007

fugi da chuva


fugi da chuva
que caía em grossas e frias
bagas. não gotas.

abri a porta e
respirei aliviada.
estava em casa.

maquinalmente
despi e pendurei
o casaco.
despojei-me dos adereços
aqui desnecessários.
a casa é abrigo,
santuário.

sentei-me a ler
e a chuva recomeçou.

em segundos fiquei
encharcada.
até aos ossos.

olhei a janela
por onde a água
escorria forte.

por dentro.
olhei
o chão da sala.

caudoloso rio
crescia
numa enchente
tapando já
meus tornozelos.

de novo virei
o olhar para a janela.

lá fora o céu
azul
resplandecia com
ofuscante luz solar.

fiquei.

esperei a chuva passar.
ou afogar-me.
transformar-me
em marinho ser .

transmutar-me.


6 comentários:

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Gostei!

Bjs

Teresa David disse...

Gosto mais deste poema do que o dos estranhos dias, pois tem um dançar de palavras muito belo, criativo e elevado. Mas a transmutação...
Bjs
TD

bettips disse...

Não consegui comentar no "Estranhos...": o adejar de borboletas-pálpebras pareceu-me um triste-adeus. Já passado mas...
Aqui: entramos na Casa onde por vezes (também) nos submergem as águas recordadas. Poemas de alma, despidos os casacos de sair, calçados os chinelos de estar. E assim fiz a ligação do outro lugar para este. Bjinho

Amaral disse...

Uma transmutação que só uma bela inspiração poderia originar!
E a luz voltou, sorridente, pela janela entreaberta.
O santuário cresceu dentro de ti...

Sei que existes disse...

Lindo!
Beijos

De Amor e de Terra disse...

TMara, que tristeza que aí vai Amiga...
Olha que o verão ainda não acabou!!!


Beijo

Maria Mamede